A queda

Dói ter que explicar o meu desmoronamento às bases que me investiram com afeto. Que me construíram com carinho. Que me deram o mundo, de onde eu ruí.
Eu não caí do sexto andar ou num poço de entorpecentes. Eu caio de mim. E recaio. E tento só respirar em ritmo normal, na desamargura de toda a gente comum. 
Eu tento andar no ritmo da gente que sofre com limite que se há de sofrer, mas parece que em minhas estruturas, sou coadujavante até para morrer. 
Peço perdão, de tempo em tempo, ao mundo todo. Aos que amo e aos que mal conheço. A mim e a Deus. Como forma de tentar aprender...
A seguir na vida...
A não parar os dias...
A não sufocar na náusea que me é viver. 
Peço perdão às bases, que me amaram tanto, mas estou caindo outra vez, como uma coisa fluida e bonita que não sabe se sustentar num mundo de saudades. 
Estou divagando no ar rarefeito de minhas nuances, onde há esbanjos e raridades. 
E vou caindo, como um poema. De tempo em tempo. No céu infinito. 
Talvez, em algum lugar bonito onde não haja mais dor. 
Onde não exista a culpa. E a densidade da vida, seja respirar, e só. 
Peço perdão, só mais uma vez, às estrelas de onde vim, fragmentada. E hoje restando quase nada, cansei. Assim esgotada, sou, das estrelas, o pó. 
Sempre dói a queda.
Dói, a queda...
Mas não há dor. 
Nem dó.

[26 de Julho de 2021].

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