Emoldurado em flores

Dorme, divino, emoldurado em flores.
Amor intenso do mais belo tempo.
Ao tentar me acalmar as dores,
padece, único, em compassar lento.

Descansa enfim, que o admiro tanto!
Ao beijar-te só, em plena madrugada.
Faço, ao julgamento santo.
Ficaremos nós, sós, e mais nada. 

Sós, na solidão funerária.
Eu em vida a zelar tua passagem.
Como antes, em paixão incendiária
a vagar sigo a ilusão de tua miragem.

Mas hoje vejo-te assim, num caixão,
embevecido em graça e tormento.
Tormento, afirmo, não ser ilusão;
ao relembrar teu último momento.

Tocando a pele em ferida grossa,
rogo para que não haja paz assim.
Lembrando de nossa vida, rancorosa,
sei que onde estás, lembrarás de mim.

Então dorme, divino e emoldurado.
Com ódio a saudar dos desejos meus.
A esperar, eternamente incendiado,
queime, a clamar pelo meu "adeus".

[2021. Publicado na antologia "Ultragóticas", lançada pela Editora Dark Books. O poema foi interpretado e Gravado em vídeo e está disponível no YouTube e Instagram do projeto artístico Contos de Pandora]. 

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