A máquina do tempo
Seis anos de saudade me indicam que a máquina do tempo talvez habite em algum lugar entre o coração e a memória, no meio do tapete verde da sala de alvenaria, e segue ligada em turbilhão.
A máquina do tempo é ágil como uma alegoria noventista, o que parece estranho. Pensar que o futuro sempre me arrasta ao sofá de infância há de soar um tanto demodê aos criadores de expectativas.
A máquina do tempo também canta como jukebox as canções que escuto sufocadas no peito e sopro como um respiro que ultrapassa os dias de hoje na voz de Nara Leão.
A máquina do tempo tem braços longos. Olhos certeiros. Nariz delicado. Cabelos vermelhos-castanhos. Conselhos intermináveis. E as suas mãos, que não soltam as minhas - trêmulas e inseguras - passantes, aqui no futuro.
A máquina do tempo é céu de jardinagem. E traz, em cada viagem, um véu de miragem sem fim...
São seis anos já - e ainda! - em que o tempo passou e pausa, brecado, cada vez que volto ao passado, ao te saudar em mim.
Se eu pudesse agora viajar sem rumo, sem medo, sem fé e sem oração; outra vez eu iria confiante pro colo que a máquina do tempo destinou ao meu coração.
Hoje são seis anos de visita só em pensamento. E uma máquina particular movida a emoção.
Até algum tempo, dona Myrian!