As histórias de minha avó
Eu gostava das histórias trágicas contadas por minha avó. Mas vivê-las foi dolorido e confuso, num clichê literário onde não cabem boas definições.
Minha avó não tinha boas histórias engraçadas. Em todas as histórias risíveis havia algo de trágico. Talvez em toda tragédia tenha narrado algo risível e eu que ainda não saiba definir em sua completude.
Não sei se ainda um dia o farei.
Já perdi tempo demais tentando explicar e categorizar as coisas a pessoas pouco interessadas e esqueci, assim, de vivê-las.
Em meus momentos mais trágicos onde minha avó já não protagonizava mais, me vi perguntando: "É esta uma boa história para o meu repertório?".
Não sei em que momento estabeleceu-se o leque de dores afetivas de minha avó, mas ela fazia aquilo fluir de deus lábios como uma narração serena interessante no sopro da noite sob o luar da janela. E hoje, é tudo cotidiano.
O cotidiano é só vida.
Eu não sei se gosto da vida como eu gosto das histórias. E me pego pensando se devo desvinculá-las.
Por hoje, não. Hoje é tudo - ainda - história.
[2022].