O asfalto visto de cima

Última vez, ouvi a noite 
Sob o mar de grafite imenso.
E o vento pairava denso
Sob a manhã que restou.
No silêncio incalculável,
Segui entre frestas, amável,
Em festa, que clareou.
E na canção derradeira,
Passei madrugada inteira 
A evitar a janela. 
E a cidade adormecida,
Pela qual eu pairava, aturdida,
Na visão turva mais bela.
Entrava som, saía lembrança,
E por toda a desesperança
Sentei à beira das ilusões.
Foi intenso o fim, no entanto,
Que a noite encerrou meu pranto
Em queda breve de orações.

[2021].

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