O dia em que eu naufraguei
Um dia você morre sem ter visto o mar.
Sem ter ouvido o som da infância.
Sem ter se despedido das ondas.
Acorda e morre.
Dorme e o mar segue o embalo da vida que você não viveu.
Leva o tempo na cadência bonita do dia em que você morreu.
No dia em que você morrer o mar renasce.
Porque tudo vai e volta, como onda branda.
A vida é maré curta, que afoga na noite, sem reparo.
E quando a gente vê, afogou o tempo.
Já nasceu o dia.
Já raiou mais água.
Já passou a vida em calmaria.
E o mar mesmo, no último momento, ninguém viu.
Se eu passar a minha vida, branda, sufocada,
Espero não morrer afogada num mar do qual ninguém se despediu.
[2022].