A velha estação
O chamado do trem noturno
Longe do centro, na ponta da cidade
Traz passado, deixa saudade
E faz sempre o mesmo som.
Não há quem negue sua história
Cuja estação, em tempos de glória
Fazia música de um só tom.
De lá chegava a italiana calada
De um boêmio poeta acompanhada
Em busca de um velho colégio convento.
E as quatro crianças, de olhar atento,
Acompanhavam a mudança na madrugada
E assim nem viam passar o tempo.
Tempo que trouxe os anos dourados
Onde a estação, reduto de namorados
Cheirava a respeito e a brilhantina.
E a grande dama, que tem me criado
Relata viagens de trem, e além,
Desde os seus tempos de menina.
A estação que a mandava aos avós mineiros
Possui ainda relatos inteiros
De viagens que sinto, sem ao menos ter ido.
E ponte para a Sampa, tão modificada,
Pro Rio, e para a Três Corações amada,
Hoje encontra-se triste e abandonada.
E assim naquela mesma rua
Hoje há tanto concreto que cobre a lua
E gabam-se por sua construção.
Perdoem-me engenheiros renomados
Embora ergam seus prédios planejados
Nada jamais ganhará da estação.
[25 de abril de 2015. Poema registrado em 2015 em uma coletânea engavetada. A estação encontra-se restaurada.]