Aparição

Então é assim o despedir da caminhada?
Não há luz, semblante terno...
E num vazio, a madrugada,
a compassar do último inverno?

Assim devo ir, sem mais?
Deixando cânticos e memórias?
Ficam os versos para trás
encerrando tantas histórias?

E devo seguir, serena e só,
na escuridão desconhecida?
Prometeram-me retornar ao pó
comigo as coisas boas da vida.

Mas não é certo, não encontro aqui
nada do que dizem as crenças.
E, em memórias de doenças, 
nunca - assim - padeci.

Não é certo, não vou adiante...
Enquanto sofrem à minha carcaça.
Se nessa vida, tão escassa,
que plantei o meu semblante.

Não vou! Permaneço. Não quero!
Mentiram-me as fés. E agora? 
Pois venha a vida e a aurora...
Estarei sem rumo, reitero! 

Sem rumo, embora tenham amado 
o que fui e a lembrança a pairar.
E o que deixo de legado
eu levarei a vagar...

[2021]

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