A pequena Alice

A pequena Alice incendiou o seu vestido de primavera.
Achou que era a mamãe chegando,
Fixou os olhos silenciosos, chorando,
Na porta, que não abriu. Não era.

Era o vento, que revoltou a pequena Alice,
E arrumava os cabelos da criança,
Enquanto ela, em dor de desesperança,
Trucidava o jardim em mera meiguice.

Ouviu chave na porta da entrada.
Agora era alguém. Certeza! 
Mamãe passou breve em plena beleza.
Esquece, Alice! Era memória e nada.

Pequena Alice voltou a brincar sozinha.
Riscou as paredes da casa em silêncio mordaz.
Chorou e dormiu no vazio que a falta faz.
Agora está Alice na cama que não a aninha.

Alice é pequena por dentro ainda.
E passam os dias, passam pessoas.
Passam também as lembranças boas.
Mas Alice adormece, em dor que não finda.

Porque Alice destruiu o que era seu.
Agonizou tanto que implodiu.
E, se querem saber, ninguém viu...
Ninguém viu sua angústia, Alice. Só eu.

[Da terra de solidão ao país das maravilhas. 2022.]

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