Na tarde de cada azulejo
Eu posso ir morrendo aos poucos...
Em cada azulejo do banheiro que encarei nos banhos longos,
Em que a água esfriava no mesmo ritmo dos meus anseios,
Dos meus sonhos,
No passo lento de minha vida,
Em olhar apático, encarando os traços dos desenhos da parede,
Pensando até quando estaria ali.
Morri afogada, lentamente,
Em banheira de lembrança,
Desde que eu era criança,
Desde que eu nasci.
Morro sufocada em cada canto dessa casa,
Cada cor,
Cada textura,
Cada vez que estou aqui,
Cada memória é uma dor,
Que configura saudade agora,
Ao viver hoje sentindo que, mais uma vez, eu morri.
Vivo em transe,
Por cada escada que subo,
Por cada cômodo que eu ande,
Não te sinto mais aqui.
Sempre é tarde,
Sempre é frio,
Os dias ja vão embora,
E a manhã não chega agora,
No tempo em que te perdi.
[Março de 2021].