Saudade é causa perdida

Eu vejo a saudade também nos desmanches
das coisas que eu não gostava.
Nas cores das implicâncias
e tempos dos ambientes,
nas pausas angustiadas
e falas incoerentes.

Eu vejo a saudade embalando inconstâncias,
que sufocam nos cantos da gente.
E, num instante inerente,
emergem, como urgências
escondidas no tempo presente. 

As escadas sobem para os quartos
e descem para as memórias,
que sorriem nas molduras
e sofrem nas histórias.
Saudade é causa perdida.
Suspiro de vida nas frestas das trajetórias.

Delineia um sonho ébrio no trepidar 
das madeiras, dos choros, dos gritos,
na desconexão dos versos aflitos
que a própria saudade faz lembrar.
Saudando os meus próprios conflitos
até a saudade hei de saudar. 

[Agosto de 2023.]

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