No dia em que eu descobri minha morte

No dia em que eu descobri minha morte eu não fiquei com medo. 
É estranho pensar, porque uma sensação de insegurança sempre repousou sob o meu coração com familiaridade infinita, mas medo não foi o meu guia. Uma tristeza paradoxal conduziu meus pensamentos porque, pela primeira vez, eu estava feliz. 
Eu fui feliz por um breve tempo (breve demais) antes de morrer. 
Acho que, por fim, a sensação é essa...
De descontrole do tempo. Uma tristeza angustiada de quem vai cedo, deixando um leque colorido de vida por viver.
Posso também chamar de medo a conexão com as incertezas dos possíveis encontros de além-vida. Mas morrer me conectou ao passado de um jeito que não houve espaço para fé que assombra. Só pensei no presente, que era quente e breve, bonito e breve, feliz e breve. Morrer naquele momento foi triste demais. 

Mas eu fiquei. Fiquei presa no tempo das circunstâncias. Entre as cores daqueles dias que me jogaram no céu infinito de tudo o que eu não havia vivido até então. 
Depois ainda fiquei confusa, me entristecendo entre o passado e me angustiando pelos futuros das incertezas desconhecidas. Normal. 
Até ajustar os equilíbrios de nossos entendimentos há morte demais que passa pelos nossos olhares. 
Mas depois de todo esse caminho eu ainda acho que morrer não me assombra. Mas me entristece. 
Porque embora eu me confunda pela vida, é na vida que eu me encontro querendo tanto do tempo presente. E a morte descansa no colo do tempo. E o tempo abraça tudo o que eu busco antes do tempo morrer. 
E nada faz medo enquanto eu vivo demais.

[2 de outubro de 2023.]

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