Uma praça iluminada

Uma praça iluminada no centro da cidade, perto da casa dos meus avós, fez um caminho de presentes e natais de luzes onde acordavam as minhas expectativas. As minhas expectativas moravam nas janelinhas de madeira dos papais-noéis temporários que carregavam sorrisos e nomes de "pai", coisa de lenda pra mim. Eu pedia. E acreditava na luz da estrela de Belém. Todo ano o menino santo nasce outra vez, minha avó dizia. E os meus sonhos também. 

Eu gostava do Natal. Porque cabia nas minhas ternuras. Eu não pensava nas faltas com todas as luzes a brilhar no céu. Eu via o sol das manhãs no aguardar do dia de tradições, pensando sempre que tudo seria um grande "para sempre" nos desejos das minhas cartinhas. Era só pedir que a fé das histórias atendia. E acreditar no impossível era me salvar da realidade estranha da minha infância meio lúdica, meio concreta.

Eu e meus avós andávamos até a praça do centro. Passávamos pelo Pão de Açúcar 24 horas e subíamos a rua da catedral seguindo as luzes. O sonho completo mantinha as lojas abertas até tarde. Os lojistas driblavam as minhas angústias com seus sentidos comerciais nas minhas noites próximas ao Natal. Eu era criança e só queria andar entre as cores e sonhos. Olhar as coisas até mais tarde. Ver os enfeites e a felicidade dos outros para aprender a cultivar aquilo em mim.

Finalizávamos a noite no pipoqueiro. As bolinhas brancas estouravam como tranquilidade em meu peito, porque alguém se importava comigo o tanto que eu precisava: mais um dia, e mais um dia... Eu tinha dó das pipocas que caíam nas ruas porque ficariam sozinhas depois que as luzes partissem. Temia por tudo o que dormisse no abandono do centro. Me angustiava pelo que ficasse largado nas incertezas. Isso é coisa que ainda dói. 

Mas quando vejo as ilusões piscando entre os enfeites dessa época eu lembro que um dia, entre as luzes dos caminhos das lojas, alguém me amou assim. Não de forma passageira, como a data ou as casinhas de madeira montadas, mas com a solidez das minhas esperanças da primeira infância. Então eu durmo tranquila, como se alguma estrela eterna ainda brilhasse no céu, em cada noite de Natal...

[11 de dezembro de 2023].