História de Anelisa

Ai, vida, me deixe contar
a história que dói em mim.
História que encerra no mar.
Que tem, no começo, o seu fim...

Na cidade mais triste do Vale,
naquele canto mais triste,
nasceu Anelisa em tristeza,
da mais sincera que existe.

No dia em que olhou o espelho
e viu seu semblante vazio,
Anelisa achou que era a dor
do mundo, em seu desvario.

Mas era o início da vida
da moça, ainda um caminho!
De cansaço, tempo e tempo...
Sem paciência ou alinho.

Anelisa olhou pro céu,
Anelisa olhou pra alma,
Anelisa andou à costa,
Anelisa respirou calma.

Era um tempo tão frio
que sussurrou na cidade,
como uma brisa eterna,
um sopro de liberdade.

E foi assim que, do alto,
numa história de areia,
de uma tristeza, num salto,
Anelisa virou sereia.

Depois disso, ninguém diz,
ninguém sabe, ninguém viu,
a história da moça mais triste 
do Vale, que o mar engoliu. 

Ai, vida, me deixe contar
a história que dói em mim.
História que encerra no mar.
Que tem, no começo, o seu fim...

[5 de janeiro de 2024.]