Porque prendi a lua em um antiquário

Dadas as transformações da vida, me encontrei aflita com as perdas. O tempo passava e eu perdia pessoas, sensações, lembranças. Agora eu via maldade onde anteriormente não havia.
E nesse desespero em manter algo genuíno, decidi prender a minha lua em um antiquário. 
Antiquário, um paraíso de velharias. Desvalorizadas. Que já trouxeram novos tempos ao mundo. 
A minha lua. Eternizada. Aquela mesma que eu olhava aos seis anos. 
Prendi a lua em um antiquário para o tempo não passar. Para o mundo não mudar. Para o fim não chegar. 
Prendi a lua em um antiquário até que minha alma entendesse onde era o seu lugar.

[Não datado.]