Todos os carnavais

Carnavais antigos. Festa hereditária. Alegria genealógica. Vó e vô foliões. Bisavó e bisavô no salão. 
Se não me engano, meus avós ganharam o prêmio de casal folião em algum desses anos jogados nas fotografias. Mas isso, algum parente querido teria que confirmar. Para mim, eles sempre ganham. Minha avó, pelas memórias. Meu avô, pelo sorriso, que continua arrastando entre os confetes, agora aos 91 anos. 

Depois vieram os filhos, que faziam tanta algazarra nessa época que deixaram histórias inesquecíveis. 
Meu tio, certa vez, saiu tão calibrado da preparatória rumo ao salão, que chegou na portaria do clube, deu um giro completo na catraca e - sem perceber - voltou pra casa. Dormiu no canteiro na noite de carnaval. De histórias assim que eu vim (e sinto saudade).

Quando eu tinha 5 anos me vestiram de fada. 
Eu parecia uma alegoria enfeitada quando chegava fevereiro. Mas era alegria demais pra caber numa criança com a história que eu trazia, eu acho. Eu não quis ir pra matinê, chorei. Fiquei no jardim da minha avó, encantada com os meus silêncios. 

Mas hoje, quando chega carnaval, eu escuto esse barulho todo e me sinto parte. É bom demais e não dá vontade de me esconder outra vez. Aliás, que nenhum de nós, nunca mais, se esconda nessa vida! 
Eu amo carnaval. Aparentemente, desde a década de 40 - ou mais.

["Todos os carnavais" - Malu Paixão. Fev/2024.]