Nota sobre um grito do centro

Acordo cansada, pensando na imensidão de coisas que o tempo arrastou. Enquanto penso, vai tempo.
Choro é tempo perdido. 

Na imensidão, olhares que eu vi uma última vez sem entender despedida. Pessoas vão embora por tristeza ou escolha. Tristeza ou escolha. Tristeza ou escolha. Assim a vida passa. 

Um grito no centro me tira do transe. 
É o tempo. Na janela, acelerado, o tempo aqui é um turbilhão. Penso na metrópole intensa que eu escolhi para equilibrar meu peito, que aprende arrastado, como valsa doce no meio do salão. 

Eu fico feliz que não há tempo para pensar. 
E fico pensando mesmo assim. 
Também choro quando quero. E perco tempo e sentido. Porque a vida não é só acordar e abrir a janela. É também todas as inutilidades que a gente escolhe sonhar. 

[12 de marco de 2024.]