Versos descarrilhados

Vou jogar uma carta pro céu, com tudo o que eu quero contar. Ou deixar ir embora de trem a saudade do seu olhar. Vou correr descalça na vida até ter seu colo outra vez. Ainda durmo aqui, dividida, em saudade que a vida me fez. 

Ou vou sentar no seu canto favorito da janela. Vou contar histórias pra noite, procurando a estrela mais bela. E vou chorar no sofá, como se fosse meninice, porque não mais te vejo. Você, no meu peito, é crendice. 

Vou mexer na sua gaveta, pra ver se vem me tirar. Nos seus livros de receitas, feitas a quem sabe amar. Vou vestir suas roupas, repetir seus rituais. Vou seguir os meus passos que hoje, dos seus, são iguais. 

Depois vou contar um causo, um conforto, um café. Daqueles passados na noite, a recobrar minha fé. Por fim, não faço mais nada das nossas trocas aqui. Eu sigo hoje saudosa desde quando te perdi. E já volta o meu trem, com olhar que preenche a cidade. E desembarcam aqui no peito, sete anos de saudade...

[23 de março de 2024.]

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