Acaso

Um dia, já tem muito tempo, uma estrela imensa explodiu no ar e fez tudo o que fez. Depois disso, já tem muito tempo, a gente começou a andar, sentir, amar: essas coisas sem sentido que são importantes demais. 

Depois a gente ficou um tempo abandonado pela pulsão inicial, a ponto de começar a chamar a estrela no ar. Erguer as mãos, preencher vazios, ter medo, chorar: essas coisas sem sentido que são imensas demais. 

Foi então que veio o caos, quando a estrela faltou. O mundo é uma grande falta que a gente não aceita, um grande medo que a gente não quer ver: essas coisas sem certeza que são doloridas demais. 

Aí a gente fica vivendo, cada um de um jeito, arrastando dores, ausências, alegrias, constâncias e vínculos no trilhar bonito que a estrela deixou. 
Não adianta chorar. Tem coisa que não volta. 
Mas tem gente que diz que sente, que ouve, que viu, e que está certo sobre a estrela dos sentidos que ficou lá no passado. Mas certeza mesmo, ninguém tem, quando para pra pensar. 

Um dia, de tanto pensar na estrela, a gente não vê o chão passar pelos nossos pés. E a gente só morre e pronto. Não existe nada além no que se possa acreditar. 
Você sonha com a estrela uma última vez na certeza de que isso é fé. E fecha os olhos para o sonhar. Para de existir, some. Não pensa, não vê, não sente. 
E vira passado, dessa história que é importante demais.

[13 de abril de 2024.]