Gentileza

Eu moro em uma cidade cuja dinâmica cotidiana pede um ritmo que não deixa a gente parar. Já são quase 15 nos que eu escolhi firmar os meus pés no centro desse furacão chamado São Paulo. E é difícil, muitas das vezes, entre os sons acelerados, os ruídos estridentes e as milhares de histórias que passam diante dos nossos olhares não ser também acelerada com as demandas. Breve. Insensível. "Não gentil". 

Mas todo "9 de maio", do início ao fim da minha existência, eu celebro o dia de uma das minhas bases mais sólidas: o aniversário do meu avô. 
Não à toa, conhecido no campo esportivo como "Fausto boas maneiras" (já comentei por aqui?).
É certo que vou comentar outras tantas vezes porque, cada vez que me falta propósito nesse mundo frenético, eu lembro que uma das partes que mais acolho em mim eu devo a ele.

Não dá pra passar pela vida sendo uma pessoa sempre gentil ou sempre sensível, sei bem. São Paulo me ensina e desconfio que, tantas vezes, ainda caio no outro extremo. Sou formada de muitas passagens, assim devo arriscar dizer que as mais lúcidas delas ainda moram nas minhas bases. Porque quando lembro da minha essência, está lá o Sr. Fausto, desligando o seu radinho de pilha pra buscar qualquer coisa que a gente queira no mercado... 

Uma das coisas mais bonitas que já me escreveram foi um poema - também gentil - deixado pelo meu tio Marcos. Nos versos, como uma prece, meu tio me roga que "todo o viver não remove o penar, que a torna mais forte, sem perder a ternura que te faz encantar". E eu penso (e sinto) que cada penar da vida me conduz em ternura por causa de figuras como o meu avô, adepto da gentileza. 

E cada vez que tento lembrar de ser gentil nessa vida acelerada, encontro o Sr. Fausto. E toda a mansidão depositada no caminho de cada relação de sua história.
Foi isso que eu vi na infância interiorana e arrasto em lembranças nas ruas largas da metrópole. 
Eu tento. Nos "9 de maio" e em todas as outras datas dessa imensidão. 

[9 de maio de 2024.]