Não há liberdade sem grito
Eu fico agora pensando
num ventre acorrentado.
No filho que eu não quis ter.
Na mãe que não me quis.
Vou pro mundo e vejo
um quadro contado em dores.
Um quadro rasgado em sonhos
que um deus homem vomitou.
E quando eu penso no inferno
me acolho no calor da cama,
na liberdade do fogo
a ebulir decisões.
É quando me guiam escolhas
que penso: não tem, não tem vez.
Da voz-mulher que me fez
um grito, a dor projetou.
[19 de junho de 2024.]