Tesouro antigo
Acordei na cozinha do sonho
onde revi minha avó.
Li uma carta antiga com fotos que me contavam quem sou, junto de outras lembranças que ela mesma me deixou.
Sentada no balcão laranja, minha prima acompanhava.
Ainda com voz de criança, cabelo de vento,
e acolhimento,
serena demais para a idade.
Ela também ganhou uma carta com soar de despedida.
Era tudo tão bonito que eu quase me esqueci:
do tempo, do medo,
e que era sonho.
(Coisa que mal vivi.)
No sonho anterior eu me perdi no mar.
As ondas me arrastavam como um afogar de dias,
mas eu achava a paz
em cada imprecisão,
do sal às calmarias.
Eu amava o mar violento e cada areia do chão.
Rogavam que eu saísse, mas eu buscava detalhes.
Achei concha, pente, pertences,
e me encontrei também,
no mar de meus pesadelos, que me embala nos lugares.
E quando eu saí da água, com várias coisas na mão,
meu avô viu a moeda do tempo, que eu protegi na corrente.
"Minha história! Você é tesouro!", sorriu a afagar meus medos.
E eu, que me afoguei, sem nem prestar atenção,
colhi todo o meu caminho com a coragem dos meus dedos.
[16 de junho de 2024.]