Uma passagem pela cozinha
Se eu apertar a dor no fundo do dia,
e dos meus olhos, nada sobrar,
e dos sons não restarem lembranças,
e do seu olhar, nem esperança,
ainda te escuto pela manhã...
Entre os dias quentes corridos,
entre os choros largos ouvidos,
entre as épocas de distância,
entre qualquer memória vã...
Te escuto entrar no quintal,
ouço passar pela cozinha,
rasgo-me em medo e saudade,
e arrasto euforia, em tristeza,
na dor da partida constante.
Se eu apertar o choro em lençóis,
e a saudade for só confiança,
e em mim, a dor delirante,
que mora nos sons da madrugada,
e dos seus olhos, já não restar nada,
ainda ouço sua voz no instante...
[2 de agosto de 2023.]