O cansaço
Um cansaço grande entrou pela porta da frente com chapas de ferros nos pés. Sujou a paz do instante, arrastando barulho no corredor. Trancou as janelas, sufocou o sol de antes, proibiu tudo o que era bonito de viver. O cansaço se arrasta nos cantos, sem cor nem voz para explicar nada.
O cansaço proíbe, sufoca, separa, julga e derruba os sonhos dos armários antigos. Depois, não te deixa sair pra voar. Também, te arrasta pra longe de quem já amou. Por fim, confunde os propósitos e as forças para dançar lento com as suas lembranças.
O cansaço não suporta poesia.
O cansaço deita as mãos pesadas na sua cabeça até espremer qualquer lágrima que ainda more no seu coração. O cansaço confunde os ponteiros das horas ainda sonhadas. Faz ruído na calma. E sapateia na hora do sono, com chapas de ferro nos pés.
Então, já é de manhã.
[28 de outubro de 2024.]