Condenado

Em 2018, havia uma gastura estranha em nós — da área da educação, das artes e afins — quando fomos às urnas com livros, para simbolizar o óbvio. Havia os inflamados pela intolerância, vislumbrando uma espécie de permissividade aos preconceitos enraizados. Chamavam a esperança de “hipocrisia”. Mas lembro que eu, um pouco mais nova (emocionalmente, inclusive), acreditava de verdade. Nas pessoas, nas mudanças, na resistência, na empatia (palavra tão estampada e tão pouco compreendida). Levei comigo um anuário de poetas porque, para mim, a poesia traduz a essência da sensibilidade — que era tudo o que eu pensava mais precisarmos naquele momento. Ainda acho que é.

E juro que acreditei mesmo que havia possibilidades sensíveis, nesse voto de confiança nas pessoas, na coletividade; e repetia: “não é possível que TANTOS abracem discursos e ações excludentes e radicais. Discursos de ódio.” Naquele ano, ficou bem claro que “discursos” relacionados ao ódio nunca se resumem apenas a palavras, infelizmente. Quando há uma fresta de validação para a ação, é que o ser humano se revela. Mas acho que muitos, como eu, levaram uma rasteira da esperança. Havia gente demais disposta a não se importar. Cheguei a passar mal, contrapondo e insistindo no diálogo, com toda a educação que me foi incentivada. Aliás, a educação como ferramenta de mudança tem se tornado, cada vez mais, um propósito na minha vida.

E então veio a pandemia, com um saldo de 700 mil histórias absolutamente desrespeitadas. Histórias que deixam marcas nos que ficaram. Falas e ações que angustiaram ainda mais a nós, que víamos o mundo passar pela janela. Olhar para outras vidas além da nossa é exercício complexo. Mas a questão aqui é pensar na esperança. Nunca me senti desistente por acreditar na história, nem nas pessoas. Triste e cansada, sim. Mas é importante lembrar que a história continua enquanto a gente age nela. Enquanto a gente lembra, registra, reconta. A mesma história que silencia temporariamente, condena.

E é bom poder responder às perguntas mais cruéis como “Vão ficar chorando até quando?” com respostas precisas como: “Até que a justiça seja feita.” 

[11/09/2025.]